Sem Palavras
por Marcelo Moraes
Você pode ser uma pessoa feliz por ene motivos, mas sempre tem dias em que esta felicidade nem sempre lhe acompanha. Coisas da vida, do destino ou de si mesmo: que diferença isso faz, ela não está mesmo? Tem certas coisas que contamos às pessoas, que para elas não são grandes coisas. Mesmo porque, às vezes, lhes contamos em momentos errados ou mesmo elas nos ouvem sem o menor dos compromissos. Aí, por mais que você se alegre em dizer-lhes o caso com o maior dos detalhes, o efeito para o receptor nunca será o mesmo de seu locutor. Mas tem certos momentos em que você pode dizer muito sem ao menos dizer nada!
Veja o vídeo:
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Meu depoimento:
"Dentro do metrô, eu e várias pessoas. Só pessoas e só eu. Eu? Sim, eu e meu dia cansado e sem nada a acrescentar, além de cumprir com o meu compromisso diário. Cansaço, dor de cabeça, impaciência: sintomas comuns, nada mais. Um dia da semana, o que teria demais? Sentado no banco, olhei à minha frente. Um menino, sim, sentado no colo de sua mãe. Um olhar cansado, desgastado este da mãe. O do filho, calado, mudo, silencioso; seria um sinal de socorro? O filho não falava, à mãe só olhava. Olhei também, para a mãe e para o menino. A mãe não me olhou, o menino sim. Sorri para ele, ele não sorriu para mim. Repeti a cena, ele repetiu a resposta. Nada, absolutamente nada mudava sua postura. Lembrei-me de Chaplin, Chaplin também não falava, só gesticulava, como ia me esquecer disso?
A viagem era longa, ainda contava com muitas estações pela frente até a minha, de destino. Fui para a nova tentativa: olhei para o menino, ele já olhava para mim fazia tempo, seu olhar nem mudava de foco. A dor de cabeça me facilitou não arriscar um outro sorriso, e então, arrisquei-me num movimento com as sombrancelhas: foram duas repetições. Aguardei. Em poucos segundos a resposta chegou: duas sombrancelhas do outro lado também se moviam. Fiquei surpreso, não contava com esta reação. E aí, o que iria fazer depois?
Não sei de qual problema ele sofria, mas era nítido que ele pouco falava, pois o olhar da mãe entregava um cansaço (e não um desgosto) de colo, de cuidados, de atenção. Já estava acostumado encontrar mães levando seus filhos com problemas de formação física ou mental para possíveis tratamentos. Ele era mais um ali passando pelas estações, e sentado no banco cinza, o banco preferencial. Pela surpresa, repeti por algumas vezes a tentativa bem sucedida. Em todas elas, ele me respondia. Sorriso? Não, em nenhum momento. De repente mudei de gesto: olhos piscando, às vezes um, às vezes outro, às vezes os dois juntos. Sempre obtendo respostas daquele menino. Esqueci-me da dor de cabeça (pelo menos naquele momento).
Não sei de qual problema ele sofria, mas era nítido que ele pouco falava, pois o olhar da mãe entregava um cansaço (e não um desgosto) de colo, de cuidados, de atenção. Já estava acostumado encontrar mães levando seus filhos com problemas de formação física ou mental para possíveis tratamentos. Ele era mais um ali passando pelas estações, e sentado no banco cinza, o banco preferencial. Pela surpresa, repeti por algumas vezes a tentativa bem sucedida. Em todas elas, ele me respondia. Sorriso? Não, em nenhum momento. De repente mudei de gesto: olhos piscando, às vezes um, às vezes outro, às vezes os dois juntos. Sempre obtendo respostas daquele menino. Esqueci-me da dor de cabeça (pelo menos naquele momento).
Durante toda a trajetória, fui intercalando movimentos, repetindo uns e acrescentando outros. Por final, inclui as mãos: dedos em sincronia como num teclado virtual. Mãos abrindo, mãos fechando. Em todos eles, o menino respondeu-me, ali, calado, mudo, centrado. Naquele tempo, parecia só existir nós dois no - nem muito cheio - vagão. Mas chegou o momento da despedida: saí primeiro. Ao levantar-me, dei-lhe um tchau de improviso (personalizado), mesmo muito rápido, fui correspondido. Mas ao abrir as portas do metrô, surge um sorriso. Adivinha de quem? Do menino? Não, era de mim mesmo. Mas desta vez eu sorri para ele e pude sentir que ele "sorriu" para mim..."
Muitas vezes achamos que a alegria ou o sorriso devem estar estampados em nossas faces, mas sabemos também, que existem infinitas maneiras de manifestarmos nossos sentimentos. E naquele dia aprendi mais uma: o sorriso do coração. No rosto daquele menino não havia um sorriso, mas no corpo daquele menino batia forte um coração. Coração este, que sem poder vê-lo, o fiz sorrir...
Com tanta gente querendo ou desejando nos ver no fundo do poço, sempre há algo ou alguém que nos impede de cair. E naquele dia, a dor de cabeça, o cansaço e a impaciência não conseguiram me derrubar. O sorriso oculto daquele menino, me fez levantar... Sem palavras ele me disse, e sem palavras eu lhe falei.
"Um dia da semana, o que teria demais?"
Muitas vezes as expressões corporais falam muito mais do que mil palavras... ficou perfeita a foto do filme do Chaplin com o menino.
ResponderExcluirQuero lhe agradecer os comentários e o link, fiquei muito satisfeito Marcelo, te linkei também.
Um abraço!
Concordo com vc, por isso que muitas vezes eu amo o silencio, amanhã vou fazer o meme da pagina do livro
ResponderExcluirO silêncio sem duvidas é a melhor das respostas. Chaplin é indrecitivel, uma verdadeira lição de vida!
ResponderExcluirBeijão!
Sem condições psicológicas de comentar a contento.
ResponderExcluirLindíssimo! Acompanhei todo os movimentos e até fiz involuntáriamente alguns...E eu também sorri.
Beijosssssss
Belo texto, meu amigo; sensível e profundamente correto.
ResponderExcluirUm abraço!
William
Marcelo, essas imagens do Chaplin junto do seu post ficaram maravilhosas. Tenho esse filme e adoro ver cada movimento e cada sentimento expresso nas cenas sem palavra alguma. É dom fazer sorrir, sabia? Não é qualquer pessoa que consegue, ainda mais estando num dia daqueles com direito à dor de cabeça. Normalmente não insistimos nas "caras feias" ou mudas, caladas, apenas refletimos o mesmo sem demonstrar emoção. Você ganhou não só aquele sorriso, ganhou muito mais. Bjins e até!
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