Meu texto te cativa?
por Marcelo Moraes
ENSAIANDO A NETQUETA III
Procurei pela internet um texto que pudesse lhe cativar. Descobri, antes de tudo, que para lhe cativar, precisaria me cativar primeiro, então, comecei com a leitura. O título, a escrita, as imagens, a mensagem, tudo estava lá, tudo mesmo, na perfeita harmonia que cabia ao autor. Mas o texto não me cativou, ele não estava lá para mim, parecia estar lá apenas para o seu autor.
Fui para outro texto. Este sim, me parecia interessante. Tinha frases fortes e seguras logo no início, mas carecia demais de imagens e pensamentos positivos. Senti, com aquelas palavras, uma certa solidão que não pôde, nem de longe, me cativar. Desisti. Nem terminei de ler o texto, saí.
Mais uma tentativa. O texto de um escritor famoso. Famoso? Quem é? Ah, este escritor contava de suas aventuras em forma de um texto leve e descontraído. Por ora, achei que seria este o grande texto que me cativaria e, em seguida, lhe cativaria também, mas ainda não foi desta vez. As aventuras daquele escritor famoso não eram em si, suas aventuras, mas uma pseudo vida que ele inventava, sem ao menos se importar com o sentimento de seus leitores. Numa rápida pesquisa, descobri que era um mero contador de histórias depressivo, pelo fracasso de, anos atrás, roubar textos consagrados e colocar o seu nome. Nome este que também era falso. Cansei desta busca...
Não tinha mais ideia do que procurar para lhe cativar. Em apenas três textos, minha motivação já estava se esgotando. Queria novas palavras, novas frases, novas mensagens... Até as imagens deveriam lhe cativar, tudo em minha mente teria que inovar. E fui pensando, pensando, pensando... Desliguei o som que ouvia, fechei portas e janelas para não me desconcentrar, mas não resolveu. O foco agora era encontrar uma solução para esta decisão. Puxa vida, como é difícil cativar alguém através das palavras! Conhecemos pessoas em nossas vidas que jamais esquecemos, tamanha a força que elas têm de nos cativar, seja com a fala, com o olhar, com os gestos, mas com palavras escritas, isso é por demais desafiador!
Arrisquei mais um. Dizem que para bom entendedor, meias palavras bastam, né? Pois é, no meio deste, talvez último texto, descobri um verdadeiro “achado”. Não era exatamente o que ele dizia, mas o que ele me provocou, me cutucou, me instigou... Algo ali me chamou a atenção. Não me deixou pular nenhuma linha, nem reclamar, nem passar batido. Estava lá, atento, e nem sequer tinha qualquer imagem associada. Aquela sensação de que “algo” ainda está por vir, ia se aproximando. Ao chegar no fim do texto, sua última frase foi fatal para a minha conclusão:
“Obrigado, leitor, por me permitir entrar em seu coração. Ferir seus sentimentos com lembranças marcantes, lhe fazer sentir o desprezo que certas pessoas lhe causam, por lhe deixar totalmente livre, motivado, desestimulado, alegre ou triste. Obrigado por me permitir lhe causar tudo isso, pois se estivesse no seu lugar, saberia que também me causaria estas sensações, afinal, se compartilhas comigo um pouco de ti, é sinal de que sou um pouco de ti também. Se confiou em mim, confiarei em ti.”
A minha busca acabou. Com aquele texto, não tive coragem de reproduzi-lo em meu espaço. Decidi compor o meu próprio texto. Nele, consegui transmitir tudo o que queria, o que desejava, o que sentia. E no final, descobri que foi o único que, realmente, ME cativou.
Quando alguém me procura para “escrever alguma coisa”, geralmente argumento para ela escrever o seu próprio texto para transmitir a sua mensagem, pois quando temos experiências para contar, tudo fica mais gostoso para quem vai ouvir, pois traz mais credibilidade, mais veracidade aos fatos, além de prender a atenção de todos. Mas muitas vezes as pessoas acabam caindo na tentação das frases prontas, dos textos prontos, de tudo pronto. Basta copiar e colar! E tudo fica ainda pior quando decidem usar aquelas apresentações de Power Point fantasmagóricas, que já infectaram meio mundo de computadores, como se fosse a mais original de todas (pausa para o #G-Zus! #pelamor #falasério #comoassimbial #comofaz...). Que existem textos fantásticos que podemos citar em algum momento, não tenho dúvidas, mas nos deixar levar somente por eles para expressar “emoções” próprias, me cheira a preguiça, falta de conteúdo. Passo por chato, mas não falo pra pessoa “entra naquele site que tem um monte de texto lá...”, mas se a pessoa não demonstrar qualquer sinal de boa vontade por si mesma, aí lhe indico o São Google como válvula de escape. E acho que já fiz demais, né?
- A gente só conhece bem as coisas que cativou - disse a raposa. - Os homens não têm mais tempo de conhecer coisa alguma. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres um amigo, cativa-me!*
Escrever dá trabalho, mas dá prazer também, traz um momento único que reservamos para nós mesmos, pois discutimos com a nossa mente, com o nosso coração. Ou será que isso não conta? Um texto que me cativa, não traz só alegria, pode trazer as mazelas da vida, pode trazer a língua afiada de alguém, pode trazer a revolta, o desabafo. Mas este texto tem que cativar, antes de tudo, o seu autor...
Se queres cativar alguém com as palavras, cative-a com o seu próprio texto! Simples ou complexo, ele é o seu texto, o seu pensar, o seu EU. Esforçe-se em produzir algo, evitando o recorte e cole que tanto se encontra pela rede. É feio, é desgastante e desagradável descobrir, depois de um certo tempo, que quem você tanto admira ou admirava, apenas reproduz coisas de outro alguém…
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Texto irretocável, cativante.
ResponderExcluirAssino embaixo quando te referes às malditas mensagens em power point: eta, falta de gosto!
abçs e bom domingo :)
Escreva com alma, com amor, com ódio ou rancor, mas seja você, seja livre e único - by CrazyAnge£
ResponderExcluirTem uma indicação para você...
Beijo
Até...
Marcelo que barato de texto. Gostei da ideia, escreverei nos próximos dias. :-)
ResponderExcluirBeijo e parabéns.