A Festa Junina e o “país do futebol” #copa2010
por Marcelo Moraes
Já começam os anúncios e as programações em vários locais das cidades que prestigiam as festas juninas: são faixas, placas, propagandas e muita gente comentando sobre a festa, ou a “quermesse”: a maioria das igrejas (pelo menos as católicas) preparam-se para reunir a comunidade e começam a sua comemoração mais cedo, já no finalzinho do mê$ de maio. O clima destas festas é sempre bom. Principalmente se for em cidades do interior, onde as pessoas reúnem-se em prol da mesma causa. Já nas grandes cidades, não é tão diferente assim, porém há uma visão mais comercial do evento. Mesmo assim, é bom também!
Festa junina tem: fogueira, doces, salgados, bebidas quentes e frias, brincadeiras, e gente, muita gente!
Além destas atrações, temos uma das mais marcantes: as danças!
É de praxe em toda festa junina tradicional ocorrer a famosa “Quadrilha”, com o casal de noivos, o padre e toda aquela cerimônia cênica que pode, muitas vezes, tirar muitos risos das pessoas presentes (ou não). Quando era pequeno, todo ano na escola eu ensaiava uma coreografia para me apresentar. Sempre gostei de dançar e nunca falhei nos anos em que estudei até o fim daquele ciclo (oitava série/nono ano). Ocorria algo estranho, que quando pequeno, não nos ligávamos: a escolha das músicas para estas festas. Lá estava eu sempre curtindo aquele momento. Tirando a música da quadrilha que é clássica, as outras, que cada turma ensaiava e era escolhida pela professora, sempre achava que eram oportunas. Às vezes nem tinham letras, só melodias juninas e nós curtíamos. Quando não eram as músicas típicas, as letras eram relacionadas com dança e festa. E os anos vão se passando e como tudo neste país vai se transformando ou se adaptando, a quadrilha passou a ser a dança de menor atração nas festas das escolas. Muitas vezes é utilizada para “encerrar” a festa e chamar os participantes dela para dançarem lá. Nelas, há também aquele compromisso da festa com as apresentações das “danças típicas” realizadas pelos alunos. Festas promovidas pela escola, para a escola, para a comunidade ou para os pais? Não sei dizer ao certo, mas as danças precisam ter! E aí começa a corrida contra o tempo para fazerem os alunos tornarem-se especialistas da dança e do sorriso marcante (na prática nem tanto, ou nem...).
Além disso, torna-se muito comum também, escolherem um “tema” para a festa: Ela pode ser “Sertaneja”, “Do Ranho”, “Das regiões” e a criatividade rola solta para camuflar o título principal, que é “Junino”.
Uma adaptação ou uma estratégia?
Difícil dizer também, vendo que as gerações que se seguem acompanham um salto tecnológico tão súbito que nem podemos culpá-las por desgostarem um pouco deste ritual de expressão corporal. A busca por uma festa que atraia os olhares das pessoas fica, muitas vezes, na fantasia de quem as idealiza. Digo isso por ver que, desde que passei a lecionar, todo o encanto destas festas vem reduzindo inversamente ao crescimento da tecnologia. Os alunos (em sua maioria) tratam a festa como uma coisa “boba”, “sem graça”, e só concordam em ir se forem para serem o centro das atenções nos grupinhos de amigos. A competição de arrecadação de prendas por sala para posterior premiação e a formação de grupos para as danças, ocorrem a fórceps! Fico decepcionado. Nos cobram incentivo aos alunos, empenho nosso para que ELES PARTICIPEM mais da festa. Se isso não ocorre, que culpa temos? Não faço milagres. O máximo que posso fazer é tentar transmitir, ainda aos menores, a minha satisfação de quando eu estava na idade deles. Pelo menos consigo arrancar uns olhares de motivação frente ao que procuro passar. E não acho que isso seja pouco, da minha parte! Mas como sou curioso, vou checando o motivo de cada turma para TENTAR entender melhor esta mudança de comportamento. E as respostas mais comuns, seguem abaixo:
“Meu pai (ou mãe) já vai pagar o passeio “x”, então não vou.
“Minha mãe falou que vai viajar”.
“Eu queria mas a minha mãe(ou pai) não deixa (religião, anti-social etc).
“Meu pai falou ou a dança ou a minha festa, então quis a minha festa (óbvio, né??????)”
Enfim, o motivo real gira em torno da palavra dinheiro! O mesmo que é exigido para se entrar na festa, para usufruir do que é oferecido nela e, consequentemente, o que garantirá um saldo positivo ou não a quem a organizou.
Eu até me conformaria com isso, e claro, ninguém faz tudo isso de graça, afinal é um trabalho também, porém, o que me chama mais a atenção são, novamente, as danças. Tenho uma dificuldade em aceitar certas escolhas de músicas que os alunos ensaiam para dançar. Não entendo este lance de estar numa festa com o tema Xis e ouvir músicas do tema “Ypsulon”. Me dá um #medo quando as músicas, que são para as crianças dançarem, começam a tocar! Quando a música começa, me sinto ouvindo vozes, como aquela do seu Silvio dizendo: “Ai, ai ai, ui ui ui!” É sério, dá #medo, pois nunca se sabe a reação dos pais... Nem a nossa!
Falam mal do axé, jogam no lixo o funk, porém, o que dizer de uma criança apresentando “gestos sensuais” numa dança “sertaneja” que fala de uma relação entre dois adultos? Achou bonitinho seu filho na festa? Que bom para você, pois eu não aceitaria de bom agrado uma cena dessas se fosse com um possível filho meu. Pagar para ter um resultado desses? Perigoso! E depois ouvir como justificativa da escolha como: “Ah, eu gosto desta música!” “Acho tão 'bonitinha'!”. “Todo mundo conhece!” Se fosse pelo gosto pessoal, tocaria meus artistas favoritos e tava ótimo, mas... Cadê o foco? Se tem pais que não ligam pra isso, cada um com a sua posição, mas tendo uma lembrança escolar bem vivida, e hoje me colocando no lugar de um pai estaria um pouco decepcionado se visse um (possível) filho meu sendo “educado” com este tipo de apresentação. Se as escolas divulgam com antecedência aos pais as músicas escolhidas, é um bom momento de se certificar de que a escolha não “fere” a conduta pedagógica dirigida aos alunos e, também, a sua relação com o tema da “Festa”. Se aluno é visto (polemicamente) como consumidor, é um direito dos pais que se preocupam com a educação de seus filhos, de cobrar da escola em que eles estudam. É assim que penso quando me remeto à infância rica que tive nestas festas juninas. Queria, pelo menos, que fosse um pouco parecida, mas...
Num ano de copa do mundo, vejo que as escolas estarão “comemorando” este “momento” a todo vapor, escolhendo como tema o seguinte assunto: Copa do mundo!(NOOOOOOOSSA!) E qual o pai, mãe, avô ou avó, tio ou tia que “jogará” contra a escolha desta maldita “paixão nacional?” Vão achar tudo “lindo, maravilhoso”, claro!!! No dia da festa, no lugar de um lenço vermelho, usarei um “verde e amarelo”. Acredite se quiser, o que acado de lhe dizer, já é #fato!
Acho que não preciso dizer mais, né? Ou preciso?
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Tenho ótimas lembranças de festas juninas que paticipei na infância e adolescência. Pena que hj esta festa folclórica esteja virando lenda...
ResponderExcluirbjs e parabéns pelo post!
Olha, lendo seu post me deu uma melancolia... lembrei de quando eu participava das festas juninas na escola.. da dança, da roupa remendada, do chapéu, do bigode feito com lapis de olho, do cigarro de palha atrás da orelha... realmente... voltei no tempo.
ResponderExcluirHoje em dia aqui não se prestigia mais essa tradição, mas estive no nordeste no mes de junho, e cara fiquei impressionado com a riqueza dos trajes e a qualidade das equipes que dançam e competem com as "quadrilhas".
Abçs
Marcelo,
ResponderExcluirAqui no Nordeste, a tradição continua firme, e consegue conviver pacificamente com a "tecnologização" cultural.
De fato, é preciso ter cuidado com as músicas ditas "juninas". Muitas vezes, elas carregam um duplo sentido e levam os alunos a a danças mais que sensuais (quase sexuais).
Abraços e ótimo final de semana.
Adoro festa junina! sempre gostei.De fato essas miscigenações de estilos, temas acho de mau gosto sim.Tb não concordaria que meus filhos participassem.Já fiquei puto ano passado com uma dancinha country americana que rolou na escola.Nada a ver nénão? num curso de ingreis até que vai...
ResponderExcluirMarcelo to com figurinhas repetidas do Ronaldim dentuço (alias os dois são) quer trocar? hehehe
Abração
As festas juninas perderam o "romantismo" de outrora, onde todos se envolviam. Não só as escolas eram responsáveis pelas festividades, mas a comunidade em si se unia para celebrar e a quadrilha não passava de uma brincadeira. Hoje o 'busyness' está à frente de tudo e o preconceito segue atrás.
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Minha primeira visita ao seu blog.
Saudações!
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